Bibelots a bulir

"Num bulas!" - já dizia o meu avô num tom autoritário, quando não queria que eu mexesse em alguma coisa.

Mas sou pessoa de mexer no que está quieto, de sacudir o tempo que pára, gosto do (des)equilíbrio da agitação...

Inquieta-me a placidez exagerada dos bibelots, do género"não me toques", sem qualquer utilidade, como as pálidas bonecas de porcelana, de olhos frios e vidrados, cabelos dourados em caracóis perfeitos e vestidos de folhos e veludo impecavelmente vincado.
Não gosto porque em miúda nunca podia brincar com elas. 
Ficavam sentadas na minha cama com o olhar vazio, e eu sentava-me também a tentar entender o seu ar infeliz, entre um sorriso Mona Lisa pintado à mão e um corpo preso a uma posição estática...

...apetecia-me cortar-lhes o cabelo e trocar as suas roupas por outras mais confortáveis, tirá-las de casa, deitá-las ao sol a ver se ficavam mais morenas; levá-las para o jardim e calçar-lhes umas botas para poderem chapinar na lama à vontade; fazerem cavalitas no gato, subirem às árvores e saltarem à corda enquanto se despenteavam...

Hoje continuo assim, sempre a mexer, mas com a vida ...há coisas que nunca mudam.





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