Neste dia especial presto a minha homenagem às mães e aos pais que perderam os seus bebés com uma mensagem que escrevi aos meus pais, avós de um bebé que não nasceu, em junho 2020.
Mãe, Pai,
escrevo este texto para vos contar o que não consegui dizer ontem no meio de tanta alegria. Desculpem. Não consegui. É difícil.
O bebé que vos anunciei, entre lágrimas que teimavam em saltar-me nervosamente dos olhos, o bebé que crescia no meu ventre, escolheu deixar-me.
Devagarinho, sem sinais, apenas com uma ligeira dor, mas ontem confirmei no hospital. "deixou de se desenvolver há 2 semanas", disse a médica. E eu, deitada, olhando para o ecógrafo, à espera de ouvir o bater do coração, que nunca mais batia. Respondi que era a natureza a trabalhar...e engoli um soluço, por trás da máscara. E é a natureza, tenho de aceitar, e tenho de levar a vida para a frente, os meus meninos para a frente, o meu trabalho para a frente.
O Pedro está desolado.
Ainda bem que os meninos nunca souberam, ficariam, penso eu, confusos.
Escrevo isto, claro, no meio de lágrimas, novamente que teimam em rolar-me pelo rosto, mas em paz.
Não fiquem tristes. Agora quero eu confortar-vos, emprestar os meus abraços, rodear os meus pais com os meus braços.
Pois, apesar de tudo, só tenho de agradecer por tudo o que tenho, por tudo o que sou. E no meio deste tempo estranho, nesta pandemia que nos põe a todos quase loucos, ficará para sempre gravado na minha memória, os abraços e os braços que me acolheram e confortaram, que são os vossos, de se secarem as lágrimas e de me darem o apoio que aqui reconheço, e claro, este neto ou neta que nunca chegou a nascer.
Um abraço apertadinho
da vossa filha
Alexandra
Agora em 2021 espero um bebé esperança, que tal como qualquer arco-íris, representa a bonança após uma tempestade.
Mas este tão querido e desejado não é o bebé do "vai ficar tudo bem", porque fica sempre a memória de um bebé que não nasceu, seja por que razão for.
Entretanto, carregando a fé, desejo a todas as mães, um feliz dia.
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