As fitas vermelhas do avião malaio

       Em miúda, na escola preparatória, uma professora (que não me recordo agora) leu uma história na aula que me marcou para toda a vida - "A fita vermelha" - de Matilde Rosa Araújo, história essa que em diversos momentos me vem à memória, como quem está muito tempo submerso e de repente tem de vir à tona, num respirar ofegante, para não se afogar.

        Bom, para quem não conhece o conto, relata um episódio de uma jovem professora que promete uma visita a uma aluna doente no hospital. Estava um domingo brilhante de sol, e a menina, Aurora de nome,"Tinha posto uma fita vermelha a segurar os cabelos escuros." e esperou a professora "...toda a tarde de domingo, na sua cama branca, de ferro." que não apareceu. Aurora morreu no dia seguinte com a fita vermelha atado no cabelo escuro, e a professora entendeu assim, da pior forma, que pode não haver próximo domingo.

        Então, a ler hoje à noite, este conto, aos meus filhos lembrei-me de quantas pessoas dentro do avião malaio que agora caiu, adiaram o seu amor e o dos outros, para um próximo domingo. Que não vem.   

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